
MINHA EXPERIÊNCIA COMO FISCAL DE PROVA
Neste relato sobre o que vi quando trabalhei como fiscal de provas de concursos, o que mais me chamou a atenção foi a incapacidade de alguns candidatos de concentrar sua atenção ao máximo na prova.
Muito comum era acontecer um barulho no corredor ou na janela, e mais da metade da turma levantar a cabeça e se virar para ver o que aconteceu, se desconcentrando totalmente do que estavam pensando na prova.
Neste momento seria importante que o leitor fosse ao capítulo em que trato do assunto concentração e lesse o exemplo que dei sobre o grande campeão de F-1., Michael Schumacher. É engraçado como alguns candidatos esquecem dos preparativos mais básicos para fazer uma prova de concurso, como relógio, canetas, lápis, borracha, apontador, corretivo para o caso das discursivas que permitirem utilizá-lo, etc.
O aluno pergunta a hora uma vez ao fiscal, mas depois fica sem graça de ficar perguntando a todo momento: “quanto tempo falta?”. Acontece então que muitas vezes ele se desorienta, se perde em uma prova, gastando mais tempo do que deveria. Tudo isso porque não teve o cuidado de se equipar com um simples relógio. Parece até uma auto-sabotagem.
Não vi candidatos tentando colar, ainda bem. Mas um aviso a todos, a coisa mais fácil do mundo é pegar alguém colando em um concurso público. As cadeiras são bem separadas, facilitando a visão do fiscal, e as provas, além de tudo, não são iguais, o que obrigaria o candidato trapaceiro a levar sua própria cola e abri-la na hora da prova. Resumindo: dá mais trabalho colar do que estudar, portanto nem imaginem este artifício como possível, é burrice.
Outro fato muito comum é o candidato entrar na sala muito antes do início da prova. A maioria dos concursos não permite que se estude dentro da sala de provas, portanto o candidato que entrar será obrigado a ficar olhando para as paredes. Alguns também não permitem que o candidato após entrar, saia da sala e deixe apenas seu lugar marcado. O resultado é que o candidato já começa a prova cansado de ficar sentado tanto tempo no mesmo lugar, o que pode até fazer com que acelere seu ritmo de prova para acabar logo com essa situação. O melhor a fazer então é chegar cedo e ficar perto da porta de entrada de sua sala de provas, sem entrar. Normalmente ali é possível até ler algo da matéria que sirva apenas de aquecimento para a prova. Nada profundo, por favor!
O único porém dessa estratégia é que você vai perdendo a possibilidade de escolher um bom lugar na sala. Essa ponderação deverá ser feita com uma certa habilidade. Se não for possível mesmo, deixar o material em uma cadeira e ficar esperando mais alguns momentos do lado de fora, dê uma olhada de fora sem entrar, e avalie se existe mesmo a necessidade de escolher um lugar, ou se todos são muito parecidos e compensa mais você ainda ficar mais um tempo do lado de fora, de pé, lendo algo ou relaxando perto de um jardim ou outra área aberta, antes de entrar.
Vá ao banheiro, se for fumante fume um cigarro, beba uma água e se prepare para entrar. Quando faltar entre 10 e 15 minutos para o início da prova, entre na sala. Novamente lembro que é importante prestar atenção no lugar em que você vai sentar, veja se é bem iluminado, ventilado e sem o sol batendo diretamente, de preferência um local parecido com o que você estuda diariamente. Procure também não ficar muito colado na cadeira da frente, pode causar uma sensação de que o lugar está cheio demais e, ao longo de algumas horas, você pode até querer acabar a prova cedo para sair daquele aperto.
Vi também alguns candidatos que, mesmo estando com relógios em seus pulsos, não conseguiam organizar seus tempos em cada disciplina, resultando que no final faziam uma das provas com pressa e sem atenção, ou pior, tinham que chutar o final porque o tempo não iria deixar que sequer lessem a prova. Mais informações sobre este tópico podem ser encontradas no capítulo “A Divisão do Tempo de Cada Prova”.
Outro detalhe que chama a atenção é a dispersão mental de alguns candidatos momentos antes do início da prova. Alguns encontravam amigos de cursinho ou de faculdade e começavam a travar uma verdadeira conversa de botequim, falando sobre futebol, política e cinema. Cheguei a ver até gente discutindo antes de começar uma prova!
Sim, discutindo. E sobre isso é impossível não fazer um parágrafo. Estava eu, sentado almoçando em um intervalo entre a prova da manhã e a prova da tarde, e claro, observando o ambiente e as pessoas. Surge então um indivíduo com uma camisa de time de futebol. Já está errado porque atrai um foco de atenção desnecessário, mas enfim, de repente era a camisa da sorte dele. Então vejo outro candidato se aproximar e começar a puxar um assunto relacionado aquele time. Não sei se os dois se conheciam, mas o fato é que passados alguns minutos, ambos estavam falando alto, e debatendo o resultado de algum jogo que teria sido injusto ou algo parecido. A situação ficou surreal quando ambos pararam de falar e cada um ficou mudo, virando de costas um para o outro e indo sentar em mesas distantes. Parece que estou inventando, mas vi isso em um intervalo entre provas. Chamo isso de despreparo e procuro explorar o assunto um pouco mais no capítulo "Redes Sociais".
Voltando ao nosso dia de prova, o ideal é sentar longe de conhecidos, ou se isto for inevitável demonstre que não quer conversa. Muitos podem até achar que é bom descontrair ali naquele momento de tensão inicial de uma prova, mas acredito que o melhor não é nem descontrair e também nem ficar calado, pensando no bicho-papão que deverá enfrentar em minutos. O melhor é o meio termo. Cumprimente seus amigos, deseje-lhes boa sorte de coração aberto e em seguida volte-se para seus pensamentos próprios de motivação, de vitória, faça uma oração pessoal, sinta o ambiente em que você ficará instalado nas próximas 4 ou 5 horas em alta concentração, verifique a sua cadeira e seu material para a realização da prova. Quanto aos fiscais de prova, normalmente o sentimento de cada um é de muito respeito pelos candidatos que enfrentarão uma árdua tarefa mental.
Como fiscais somos instruídos a fazer o mínimo de barulho ou movimentos que possam atrapalhar os candidatos, além de termos que resolver qualquer necessidade que possa surgir durante a prova. O fiscal está sendo pago para realizar este trabalho, e o que ele mais quer é ser chamado para ser fiscal de prova em outros concursos, já que é uma graninha extra boa. Para isto, é necessário que seu trabalho não chame atenção negativamente, por exemplo, por algum tipo de confusão na sala em que ele está trabalhando como fiscal e que possa atrapalhar o concurso.
Portanto, não imaginem um fiscal de provas perseguidor e implicante. Na verdade a maioria ali quer fazer um bom trabalho, com o mínimo de intervenção possível nas provas dos candidatos.