
O EMBARALHAR
Os estudos do funcionamento de nossa mente ainda estão em fase inicial, por isso muitas descobertas e seus efeitos não têm uma explicação científica, apenas o fato na prática, como é exatamente o que ocorre com o que explicarei.
As fichas que construímos diariamente irão formar blocos de mais ou menos 100 fichas, que serão guardados com toda a matéria que foi repassada.
É importante lembrar que um bloco de 100 fichas será formado por matérias diferentes, jamais poderá ser composto de uma matéria apenas, como por exemplo um bloco formado apenas por fichas de Português.
Quanto mais matérias diferentes conseguirmos inserir em um bloco de 100 fichas, melhor.
Este bloco será inicialmente guardado na ordem em que foi escrito, ou seja, o aluno começou a sua confecção quando estava estudando Português, e assim escreveu 22 fichas. Depois, no mesmo dia estudando Direito Tributário, elaborou mais 12 fichas. Em seguida, estudando Estatística, elaborou mais 8 fichas. No dia seguinte continuando a construção daquele bloco de estudo, o estudante confeccionou mais 14 fichas de Contabilidade e 10 fichas de Direito Constitucional. Os alunos que estão prestando vestibular entendam estas matérias como Biologia, Química Orgânica, Álgebra, História Geral.
O aluno continua na construção de seu bloco de fichas que deverá ter em torno de 100 fichas, um número tolerável para uma releitura. Seu bloco de fichas finalmente ficou pronto: 100 fichas que trazem conhecimentos estudados de 8 matérias diferentes em 1 semana de estudo.
Isto é apenas um exemplo, seu bloco pode ter 4 matérias e ter sido elaborado em 2 semanas.
Agora este bloco de fichas está pronto para ser relido sistematicamente, como explicado no capítulo “Leitura Coordenada dos Blocos de Fichas”.
Inicialmente nas primeiras leituras, o bloco deve ser guardado obedecendo a ordem em que foi escrito, com as matérias todas separadas umas das outras, evitando-se que uma ficha, que tenha sido escrita depois, seja lida antes de uma ficha que tenha sido escrita antes. Tudo guardado de maneira muito bem organizada como manda o nosso LADO ESQUERDO do cérebro.
Agora vem a INOVAÇÃO.
Como já agradamos o nosso “Lado Esquerdo” do cérebro, chegou a vez de fazer o mesmo pelo Lado Direito e aproveitarmos ao máximo seu potencial criador pouco explorado: apresentamos a desorganização controlada.
Chegou o grande momento de transformação do nosso bloco de 100 fichas, a sua metamorfose: EMBARALHE-O.
Exatamente isso. Embaralhe seu bloco de 100 fichas. O momento certo de embaralharmos nosso bloco de fichas vai depender de cada estudante.
Você deve se sentir seguro no que está contido ali. Não recomendo que se faça antes da 5ª leitura. No meu caso costumava embaralhar a partir da 7ª leitura, mas como já disse, isso vai depender de cada um.
Não demore demais para embaralhar. Nosso lado esquerdo fará de tudo para dizer que ainda não é o momento, que precisa de mais algumas leituras, que precisa de tudo sempre bem ordenado. Se formos esperar o momento perfeito para o embaralhar, iremos ler aquele bloco 20 vezes, e o lado esquerdo continuará dizendo que não é o momento.
Parece uma loucura, nosso lado organizado diz “não” desesperadamente, mas como nosso método de estudo visa explorar também uma parte esquecida nos estudos tradicionais, embaralhemos com confiança o bloco inteirinho, como se fosse realmente um baralho.
O que estamos treinando com isso ?
Nossa mente já sabe qual a matéria inserida naquele bloco de fichas. O que precisamos treinar agora é a capacidade de conseguirmos com apenas uma ficha localizar uma matéria inteira.
É um treinamento mais arrojado para os nossos neurônios, algo que retira aquela segurança de ter tudo arrumadinho e obriga a mente a utilizar recursos de associação de idéias, que não utilizaria se tudo estivesse em ordem.
Como as fichas estarão embaralhadas, ocorrerá com muita freqüência lermos uma de Direito Administrativo e em seguida uma de Matemática Financeira, que não tem nada a ver, e depois lermos uma de Direito Previdenciário.
Alguns podem pensar que o nosso cérebro não entenderá nada, que não funcionará e teremos jogado tempo fora. Mas é exatamente o contrário. Nossa mente aos poucos começa a ganhar uma capacidade de, com poucas informações, visualizar uma matéria maior. E ao levarmos este potencial para o dia do concurso público, sentiremos a facilidade com que podemos navegar mentalmente por diversos assuntos pertinentes a uma mesma matéria. Afinal todos sabemos que uma mesma matéria compõe-se de assuntos totalmente variados.
E mais, no grande dia do concurso, se apresentarão em um caderno de provas várias provas de matérias diferentes. Precisamos estar totalmente acostumados a enxergar esta grande variedade de matérias com naturalidade, sem sustos e principalmente com preparo mental.
O embaralhar aos poucos começa a adaptar nossa mente a variações abruptas de raciocínio. Começamos a criar uma habilidade de variar e acessar diferentes matérias, com um esforço cada vez menor. Relembrando o capítulo sobre a “Divisão do Tempo de Estudo”, ganhamos a capacidade de iluminar cada vez mais cômodos de nossa grande mansão cerebral, em um espaço de tempo cada vez menor.
No início da leitura de um bloco de fichas embaralhado, podemos sentir um pouco de dificuldade para entender em que contexto da matéria se enquadra aquela ficha, mas este fato será sanado com a leitura de outras fichas, que pertençam à mesma matéria dentro deste bloco embaralhado, até que em um determinado momento não será mais necessário tantas fichas seguintes para que o aluno perceba do que aquela ficha inicial estava falando.
Conquistamos uma capacidade de ir lá na frente em uma matéria e depois voltarmos para o início, com a simples leitura de fichas desordenadas. Quem trabalha arduamente nesta tarefa é o nosso lado direito do cérebro, que ao ver esta aparente confusão, procura localizar o ponto de nossa mente em que está guardada aquela informação. E fará isto dezenas de vezes na leitura de cada ficha embaralhada.
Este exercício nos ajudará a enxergar não somente aquele ponto de estudo da matéria, mas a mesma como um todo. Enxergaremos não somente uma onda no mar, mas todo o oceano. A idéia é essa.
As fichas embaralhadas são como várias páginas de cadernos diferentes que podemos abrir, ler, fechar, depois abrir outro caderno de outra matéria, ler, fechar, depois outro e outro e outro, depois voltamos ao inicial e percebemos que já estamos vendo com mais clareza o que a princípio parecia sem sentido na leitura da primeira ficha.
Outro exercício interessante, pertencente quase ao terreno mitológico das bruxarias do aprender, é o seguinte: antes de dormir, pegue um dos blocos de fichas e leve-o para cama. Inicie sua leitura já deitado, vá passando ficha por ficha sem preocupação com a perfeição do entendimento da matéria, simplesmente passe de ficha para ficha. Também não se preocupe com a ordem em que as fichas ficarão no bloco, vá jogando-as no chão ao lado da cama (para isso este bloco preferencialmente já deve ter sofrido a metamorfose do embaralhar). Prossiga com a leitura até dormir.
Não é necessário ler todo o bloco, e provavelmente isto não acontecerá, a não ser que você esteja com insônia. Lembre-se de que esta é uma leitura sem compromisso. Seu objetivo é aproveitar ao máximo o estágio de relaxamento do corpo para inserir idéias já vistas antes e que precisam de sedimentação na mente.
A diferença que um exercício deste tipo pode fazer por você em um concurso pode ser comparada com aqueles centésimos que separam os nadadores olímpicos que fazem de tudo para vencer, inclusive raspar os pêlos do peito e utilizar roupas que imitam a pele dos peixes.